2 de julho de 2015

O hábito de tomar o pequeno-almoço fora de casa

 

Que é a refeição mais importante do dia, já o sabemos. Médicos, nutricionistas, os professores da escola primária... Todos nos dizem que não se deve sair de casa sem tomar o pequeno-almoço. Então e aquelas pessoas que saem de casa PARA tomar o pequeno-almoço? É que há por aí muito boa gente a transformar essa refeição num autêntico evento social.

No sítio onde moro, há pastelarias a cada esquina (assim como cabeleireiros e cocó de cão, mas isso é outra conversa...). De manhã bem cedinho, quando vou levar o meu filho à creche, já esses estabelecimentos estão em pleno funcionamento, a abarrotar de clientela: "Sai uma bica! Sai um Pão de Deus com manteiga! Sai uma tosta mista e um galão escuro! Sai um pastel de nata! Uma torrada com pouca manteiga!". A cada esquina, repete-se o burburinho da "hora de ponta" e eu não consigo evitar um pensamento: o que motiva tanta gente a fazer do pequeno-almoço fora de casa um hábito? Fala-se tanto da crise e do corte de despesas supérfluas, mas eu continuo a ver as pastelarias cheias!

Façamos as contas. Um pequeno-almoço "básico", estilo carcaça com manteiga e meia de leite, não deverá andar longe dos 2 euros. Mais 70 ou 80 cêntimos para o café, que ninguém passa sem a bica. São quase 3 euros a multiplicar por todos os dias da semana, quatro semanas por mês. Já para não falar de pequenos-almoços faustosos - os preferidos da maioria - em que tostas, torradas, Croissants, Pães de Deus e restante pastelaria fina perfazem números chorudos, em calorias e em euros. Mas quem sou eu para criticar orçamentos alheios? Cada qual sabe de si e os vícios não se discutem. Uns preferem estourar o rendimento em bicas e pastéis de nada, outros em tabaco, e há ainda quem aposte todas as fichas em viagens. São opções. O que me intriga verdadeiramente é o ritual continuado, o hábito de quem já nem sequer tem memória da última vez que tomou o pequeno-almoço no conforto do lar.

Não falo, portanto, das pessoas que OCASIONALMENTE tomam o pequeno-almoço a caminho do seu destino (o trabalho, a escola dos filhos, uma reunião, etc.). Essas pessoas fazem-no por dois motivos: ora porque saíram à pressa e não conseguiram meter nada no estômago, ora porque não tinham sequer um papo-seco para enganar a fome. Não. Eu falo ESPECIFICAMENTE de quem já não vive sem o pequeno-almoço fora de casa. Dia após dia. Com pompa e circunstância. No corrupio das pastelarias. E quem diz pastelarias, diz snack-bares ou tascas - embora, nesses estabelecimentos, o burburinho seja radicalmente diferente. Não há empregados a gritar galões, meias de leite, Pães de Deus e Palmiers cobertos de chocolate. Ali, a clientela é de outro calibre e prefere "matar o bicho" com uma ou duas bejecas, uma bifana no pão e, quiçá, um pratinho de torresmos para forrar o bucho. Tudo em prol da saúde, como recomendam os médicos e os professores. Afinal, é de manhã que se começa o dia!

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