22 de dezembro de 2009

24 de novembro de 2009

TPC "cria uma ONG"


Ajuste de Contas
Manifesto "Tu vales mais!"




Tu vales mais do que ajudas de custo. Vales mais do que estágios a troco de nada. Vales por aquilo que sabes, pelo que aprendes, pelo esforço que colocas em tudo o que fazes e pela dedicação com que te entregas. O teu valor és tu. E tu vales mais.
A Ajuste de Contas existe para defender o valor de todos os que vivem num mundo onde as ilegalidades laborais se tornaram regra. Onde os abusos existem e passam impunes aos olhos de todos. Sim, os estágios não remunerados são ilegais. E as ajudas de custo, quando não integram um contrato de trabalho, também o são. A exploração laboral sistemática e generalizada é crime. E, como tal, não pode ficar impune.
A Ajuste de Contas quer abrir os olhos a quem governa este país. Porque o mesmo Estado que sabe que existem centenas de jovens em início de carreira sujeitos a regimes precários, finge que não sabe. O mesmo Estado que fez das Novas Oportunidades um estandarte europeu fecha os olhos à falta de oportunidade de empregos decentes e justamente remunerados. O mesmo Estado que tem apostado na educação e que quer ser um país de quadros especializados e doutores, esquece-se da inserção profissional. De que vale formar milhares de jovens, para depois os deixar abandonados à sua própria sorte? Uma sorte que, nos dias que correm, é ínfima. Hoje em dia, encontrar um primeiro emprego ou um estágio legal e verdadeiramente profissionalizante é como encontrar uma agulha num palheiro. Os estágios profissionais deram lugar aos falsos estágios profissionais, aos enganosos estágios curriculares, aos indecentes estágios com ajudas de custo e aos escandalosos estágios não remunerados. Estágios e mais estágios. Promessas vãs de futura integração em empresas que, na realidade, não têm qualquer tenção de as cumprir. Para quê pagar ordenados, impostos e segurança social por recursos, quando se pode tê-los sem gastar um tostão? É esta a nova lógica empresarial. Uma lógica que tem a conivência do Estado, pela passividade e inoperância. Generalizou-se a indiferença, a sujeição, a passividade, a exploração, o aproveitamento e a negligência. As empresas descobriram as suas próprias Novas Oportunidades. Oportunidades de lucrarem com o trabalho gratuito e de ganharem reputação à custa de jovens empenhados, que de tudo fazem para que lhes seja dada, a eles sim, uma oportunidade. Encaremos a verdade. Ninguém gosta de trabalhar para aquecer. Se há centenas de jovens que se sujeitam a estágios precários, só o fazem na expectativa de que lhes seja reconhecido valor. E com a esperança de um dia fazerem condignamente parte da equipa que ajudaram a crescer. Mas, infelizmente, aquilo que acontece é o aproveitamento descarado e indisfarçado de um jovem atrás do outro, sem que essa corrente de exploração seja denunciada e quebrada. Pois bem, é hora de quebrar correntes. A escravatura há muito que deixou de existir. Por favor, não se inventem novas formas de a ressuscitar. A organização não governamental Ajuste de Contas surgiu da necessidade de recuperar a dignidade laboral e de criar legítimos primeiros empregos e verdadeiros estágios profissionais. Porque não somos contra os estágios, desde que estes se enquadrem ao abrigo do Código do Trabalho. Queremos revitalizar os estágios profissionais porque acreditamos que eles são importantes, quer para as empresas, quer para os recém-licenciados. As empresas ganham recursos especializados e o apoio do Estado pelo incentivo à empregabilidade. E os estagiários ganham experiência no mercado de trabalho e abrem uma janela de oportunidade para o futuro. Queremos acabar com as promessas desleais e a exploração sistemática de recursos. Junto do Estado, faremos campanhas de sensibilização, denunciando empresas onde essa exploração aconteça. O Estado pode e deve fazer cumprir a lei, protegendo os seus cidadãos mais jovens. Junto das empresas, pressionaremos e insistiremos para que elas acabem com os vínculos ilegais e para que assumam responsabilidades por quem empregam. As empresas deverão fazer às claras e à luz da lei, para que depois possam ser tidas como um exemplo a seguir por outras empresas. Usaremos o marketing como uma arma eficaz. Se para as empresas é importante manter uma reputação e uma imagem de referência, para nós é fundamental que essa imagem incólume se reflicta na forma como a empresa trata os colaboradores. Por isso mesmo, não hesitaremos em denunciar situações de abusos e manchar a imagem da empresa infractora. Não hesitaremos em fazer cumprir a lei. Não hesites tu também em dizer NÃO aos abusos. Diz NÃO aos estágios ilegais e reivindica o teu valor. Nós estamos aqui para te ajudar com o ajuste de contas.

13 de novembro de 2009

Home Made Joke

Quem é que se chama quando não há net?
















A Janet(e), pois claro.

NOTA de autor: peço que considerem o facto de a piada ter surgido em contexto laboral e depois de uns longos 10 minutos sem net (o horror, o drama...).

Supertramp



Para o fim-de-semana chuvoso que aí vem.

11 de novembro de 2009

Carlota

Certo dia, a Carlota - farta de que a chamassem Carlota Bolota - mudou de nome.

Escolheu chamar-se Sofia, pois soubera pelo professor de filosofia que aquele nome significava sabedoria. E Sofia era um nome muito bonito, não ia ser, de certeza, alvo de chacota. A partir desse dia, Sofia passou a dizer o seu novo nome com toda a confiança, radiante por não dar azo a trocadilhos e rimas marotas.
- Sofia, muito prazer.
- O meu nome é Sofia.
- Olá, eu sou a Sofia.
- Sofia.
- Sofia.
- Sofia.
Até que, de tanto dizer o seu nome, Sofia cansou-se dele. Passou a achá-lo aborrecido e sem graça. E pior do que isso, deixou de se identificar com ele. Aquelas letrinhas, tão delicadas todas juntas, passaram a ser-lhe estranhas e Sofia deixou mesmo de responder por esse nome. A menina brincalhona, sorridente e faladora de antes tornava-se agora numa menina de identidade baralhada, a esmorecer a olhos vistos.
Os amigos, preocupados com ela, explicaram-lhe o motivo da sua angústia. Era simples: Sofia tinha saudades de se chamar Carlota. E foi nesse instante. Assim que ouviu o seu antigo nome, Sofia riu como há muito tempo não fazia. Lembrou-se da alcunha "Carlota Bolota" e achou-lhe muita piada. Ela percebera finalmente a inocência e a graça do trocadilho. Os amigos viam-na rir e sorriam também.
Foi às gargalhadas que Carlota Bolota percebeu finalmente a importância de se aceitar como era. Sim, podia ter um nome engraçado, mas aquele nome era a sua cara. E a cara não se muda. Porque mesmo que se usem máscaras, o rosto verdadeiro será sempre o que está por debaixo delas.

Escusado será dizer que a Carlota voltou a chamar-se Carlota. E não é que o professor de filosofia tinha mesmo razão ao dizer que Sofia significava sabedoria? Afinal, foi nos seus tempos de Sofia que Carlota aprendeu uma sábia lição de vida.

10 de novembro de 2009

A Paciência



 
















A Paciência espera, a Paciência tolera, a Paciência persiste, a Paciência insiste, a Paciência não desiste, a Paciência suporta, a Paciência não se importa, a Paciência aguenta, a Paciência enfrenta, a Paciência persevera, a Paciência não desespera.


A Paciência é uma mulher cheia de virtude. Na realidade, quem a conhece só lhe aponta um defeito. Parece que é viciada no jogo da paciência.

1 de novembro de 2009

Chuva de Novembro




Aquela manhã ameaçava ser mais um desastre, uma avalanche de mau-humor no trabalho, um exemplo de manhã a riscar no calendário de tão catastrófica que ameaça ser. Começou mal assim que o despertador tocou e eu acordei com a sensação de que acabara de me deitar. "Malditas olheiras!" Tomei o banho habitual de 5 minutos, shampô, gel de banho, amaciador, tudo praticamente ao mesmo tempo e à pressa. "Vou chegar atrasada mais uma vez, porra!”. Vesti a primeira coisa que apanhei à mão, e claro, tinha de ser a camisola de lã vermelha que me faz parecer cinco vezes maior. "Que chatice! Tenho de me livrar desta camisola", lamentei por todas as tentativas de "camisolicídeo" até então sempre adiadas. Antes de sair de casa, reservei o tempo habitual - o tempo sagrado - para o miminho à auto-estima: a aplicação do creme hidratante, anti-olheiras e anti-rugas. Dêem um Nobel a quem inventou semelhante milagre, por favor! "Perfeito", exclamei ao espelho. "Adeus, olheiras. Olá juventude". Desci os degraus do prédio aos pares, como sempre fazia em manhãs como aquela, e ganhei fôlego para a correria do costume: autocarro, metro, uma caminhada de uns bons 300 metros até ao trabalho, enfim, o dia-a-dia de há dez anos para cá... "Bolas, como o tempo passa!" Mas desta vez, algo de novo. A escassos metros da biblioteca, debaixo de chuva miudinha e com o mau-humor tão cinzento como aquela manhã de inverno, o meu chapéu-de-chuva prendeu-se noutro. "Porra". Viro-me num impulso, pronta a insultar a pessoa que teima em não partilhar o passeio. Já tenho a asneira na ponta da língua, pronta para sair, quando me deparo com uns olhinhos doces numa cara de galã de comédia romântica. "Desculpa", diz-me ele, não vou jurar, mas pareceu-me que em slow-motion. Na minha cabeça, naquele momento suspenso entre gotas de chuva, duas ideias: "maldita camisola" e "ele tratou-me por tu. Será do creme?". O creme ou a camisola, qual iria ter mais peso na apreciação dele? "Estas coisas acontecem", retorqui em jeito de adolescente. Sorrisinho tonto e língua a enrolar as palavras.
Uma hora depois, estávamos no café da esquina, ambiente lounge, muito agradável. Rimo-nos quando passou na rádio o "November Rain" dos Gun's and Roses. Curtimos o som. Bebemos chocolate quente e fizemos gazeta. Ele mandara às urtigas a conferência a que deveria assistir naquela manhã - era patrão, podia fazê-lo. E eu tinha acabado de perceber que o meu futuro emprego seria o de mãe dos filhos dele. Ficámos ali, no Date - é verdade, o café tinha um nome inglês curioso - separados da chuva por um vidro. Ali mesmo jurámos amor eterno sem no entanto o verbalizarmos. O nosso olhar bastava-nos. Falámos do tempo, da minha camisola, de manhãs como aquela. E lá fora a chuva, sempre a chuva.

A chuva que hoje também cai. Até parece que cai para nós. Olho ansiosa a rua molhada e espero nervosa na mesma mesa de há dez anos. Que lugar melhor, senão aqui, para te dizer que finalmente estou grávida. Conseguimos, meu amor. Olha, chegaste. Trazes um ramo de rosas vermelhas. "Amor, já reparaste que está a chover no nosso dia? Como há dez anos atrás?", dizes-me. Eu sorrio. "É verdade, está um dia de chuva perfeito".

30 de outubro de 2009

O cromo da bola torna-se cromo do Ídolos

Cristiano Ronaldo concorre ao Ídolos e, depois de uma prestação desastrosa, aguarda ansioso a apreciação do júri.

Manel (Moura dos Santos)
- Epá, tu não cantas a ponta de um chavelho.

Cristiano
- Eu penso que não foi assim tão mau.

Manel
- Não foi mau, não. Foi péssimo.

Roberta (Medina)
- Eu achei bacana seu visual.

Manel
- É um bocado azeitola. Pareces um gajo do gueto, pá.

Cristiano
- Eu penso que também não é preciso falar assim com as pessoas.

Manel
- Epá, eu vou ser sincero contigo... Ouvi dizer que tu dás uns toques na bola, não é verdade?

Cristiano
- Penso que sim.

Manel
- Então fica-te pela bola, que tu na música não dás toques, dás é pontapés.




Depois de sair da sala, visivelmente abatido, Cristiano Ronaldo é entrevistado pelo apresentador.

Apresentador
- Então, Cristiano, não correu bem?

Cristiano
- Eu penso que a minha prestação não foi assim tão má, mas eles tiveram uma atitude muito ofensiva e acabaram por ganhar.

Apresentador
- E o que é que achas que correu mal?

Cristiano
- Não sei. Eu penso que dei o meu melhor. E penso que, se a minha irmã consegue vender discos, eu também vou conseguir, tás a ver?

Apresentador
- (Jocoso) Tou, tou. É o que nós aqui chamamos de star quality.

Cristiano
- É, eu penso que é isso.

Apresentador
- (...!?!?!)

28 de outubro de 2009

This is it.

É hoje a estreia mundial do aguardado This Is It, documentário póstumo sobre Michael Jackson. Será, sem dúvida, um sucesso de bilheteira, tal como tem sido uma bem sucedida manobra de marketing até aqui. E, por falar em marketing, é impressão minha ou o slogan da nova promo do Rock In Rio assenta neste tema como uma "luva"?

A propósito de regresso, claro.

A cidade que escorre para o rio


Todos os dias, Lisboa escorre para o rio. Gentes que correm para o barco e dizem até amanhã a uma cidade que não lhes pertence. Gentes que alugam Lisboa ao dia e saem dela ao cair da noite. Os cacilheiros que vão e vêm como pêndulos sobre o Tejo. Os mesmos cacilheiros que, com o vagar de formigas obreiras, carregam num lado e descarregam no outro.
É assim todos os dias. Lisboa esvazia e escorre, precipitadamente, para o rio. Porque à noite Lisboa dorme nos braços das suas gentes. Tranquila. Antes que o rio volte a trazer as gentes de fora e a cidade se encha novamente. De pessoas. De vida. De si própria.

Arquitectura quê?

Não faço ideia onde fica este muro catita. Nem sequer sei se isto será montagem, mas parto do princípio que não. A imagem chegou-me por email e o que me despertou curiosidade foi pensar se estas sombras foram planeadas ou se surgiram inesperadas, como bónus e para surpresa de quem construiu o muro. De qualquer maneira, é giro. É um muro que, além de cumprir a funcionalidade para a qual foi construído, ainda arranca sorrisos aos que por ele passam (sorrisos ou praguejos indignados, mas ambas as reacções a mi me encantam). Pelo menos, não deixará ninguém indiferente. E isso é bom, não é?

25 de outubro de 2009

Crème D'Or

Ora aqui está um exemplo de um anúncio delicioso (com um slogan irresistível).

22 de outubro de 2009

Durante o percurso para casa.

Naquela noite, durante o habitual percurso solitário para casa, Elisa encontrou um companheiro de caminho. Depois de ele a ter ultrapassado, logo que se afastaram da saída do metro, caminhou sempre uns passos à frente dela. E Elisa seguiu atrás, inevitavelmente, pois caminhavam na mesma direcção. Durante o percurso, foi observando, com um interesse quase científico, aquele rapaz franzino. A estrada molhada inspirava mais cuidados do que o normal - tinha chovido muito e uma série de obstáculos minavam o percurso - mas Elisa reparava, fascinada, que aquele rapaz se esquivava com uma delicadeza impressionante das armadilhas da intempérie. Ela já metera por duas ou três vezes a pata na poça, sobretudo porque não tirava os olhos daquela figura, de que não conhecia a cara, mas cujas costas estudava pormenorizadamente. Nas costas da long sleeve bege uma inscrição em letras brancas era ocultada por um pequeno saco cinzento pendurado sobre os dois ombros, claramente com pouca coisa dentro. Elisa já percebera que a inscrição estava escrita em inglês, mas depois de alguns passos a tentar ler o seu conteúdo, desistira. Concentrara-se nos jeans de ganga escura, tão direitos que pareciam acabados de passar a ferro. Ela reparava, inclusive, que um vinco vertical ao longo de cada uma das pernas das calças aparentava um mazelo estranhamente invulgar em calças de ganga. Ele não usava jeans rasgados, manchados, desbotados ou amarrotados como agora se via em tantos outros da sua idade. Ele não caminhava desleixado, como a rapariga que o seguia e que, sem ele saber, o admirava. Aquele rapaz, a quem Elisa não não dava mais de uns 20 anos, caminhava como se atravessasse a passerele de um dos desfiles glamourosos de Paris ou Milão. Num balouçar de ancas ritmado, deslizava sobre a rua molhada, enquanto segurava o chapéu de chuva na mão direita. Como não chovia, o chapéu permanecia fechado na sua mão, como uma batuta que marcava o ritmo daqueles passos. E Elisa, enquanto o seguia, não conseguia evitar o pensamento de que era ele, de eles os dois, o que tinha maior elegância no andar e singela delicadeza. Inevitavelmente, Elisa tentou imitá-lo, imprimir a elegância daquele rapaz no seu próprio andar. Se alguém os via, julgava que ela gozava com ele. Mas não era isso que ela fazia. Ela, genuinamente, admirava-o. Tudo nele a fascinava, sem ela perceber exactamente porquê. E seguiram os dois assim, ao longo dos quinze minutos de percurso. Em alguns momentos, Elisa tinha a certeza de que ele suspeitava do que ela fazia atrás dele (e parecia-lhe até que exagerava na elegância do andar só para a deixar mal). Mas nem por isso ela se inibia do que fazia nas suas costas. Aquele encanto só cessou no momento em que os caminhos deles de separaram. Elisa viu-o seguir em frente, entristecida por ter de virar à esquerda. E olhou-o em sinal de despedida, embora só ela se despedisse. Foi quando reparou no derradeiro pormenor que a fascinou. No pescoço, o corte de cabelo daquele rapaz não terminava a direito, numa linha recta convenientemente traçada para separar o couro cabeludo do pescoço. Naquele rapaz, tão diferente de tantos outros, o corte de cabelo terminava com um capricho de barbeiro e dele próprio, certamente. Um capricho em forma de rabicho de cabelo colado à nuca que pendia sobre o pescoço, não demasiado grande para se notar, mas o suficiente para marcar a diferença. A Elisa lembrou-lhe um bonito pormenor num móvel de estilo vitoriano. Um móvel trabalhado e sumptuoso, que nunca está realmente deslocado do seu tempo pela beleza e elegância que transmite a quem o admira. Aquele rapaz, se fosse uma peça de mobiliário, tornaria qualquer sala mais bonita. Tal como tornou o percurso de Elisa para casa, na noite em que ela o encontrou.



20 de outubro de 2009

Estou velha.

Sempre detestei ser a mais nova. Como faço anos em Dezembro, no último mês do ano da minha geração, fui, durante anos a fio, a mais nova da minha turma. Entrei para a primeira classe com 5 anos, quando os meus colegas já tinham 6, e para a faculdade com 17, enquanto os outros se gabavam da maioridade. Por casualidade, e para tristeza minha, nunca encontrei ninguém - em todas as turmas por que passei - que fizesse anos depois de mim. Portanto, o estigma da mais nova sempre me perseguiu.

Entretanto, no ano passado consegui deitar a língua de fora ao estigma e vingar-me de bloqueios antigos. Fui parar a uma turma de escrita onde havia vários colegas muito mais novos do que eu. E foi fantástica a sensação de eu não estar sequer nos "top 5" dos mais novos da turma. Foi até divertido assistir ao inquérito "que idade tens?", pois já suspeitava de que não seria eu o alvo da constatação: "és a mais novinha!".

Ontem, por ocasião do mesmo tipo de inquérito - por sinal muito popular em turmas que se juntam fora do trajecto de ensino convencional - descobri que cheguei finalmente àquela idade em que sou a mais velha da minha turma. O resultado apanhou-me de surpresa. Juro que não esperava ser a mais velha assim tão nova.

E como é que eu me senti? Imponente e sapiente, tal como imaginara tantas vezes no passado ao desejar encontrar-me naquela posição? Não. Senti-me assustadoramente velha. E voltei a sentir-me em desvantagem, desta vez porque tive a percepção de que os meus colegas, mais novos do que eu, teriam mais tempo para aplicar aquilo que estavam ali a aprender.

Isto da idade começa a afectar-me.

16 de outubro de 2009

Lições de português

Este senhor aqui ao lado ensinou-me algumas coisas giras sobre a nossa língua. E partilho convosco algumas delas, porque é sempre bom sabermos o que dizemos mal. Agora, se vamos corrigir ou não, isso já é outra história.

Por exemplo, quando se diz: "Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho carpinteiro" devia dizer-se: "...parece que tem bicho no corpo inteiro". Faz mais sentido, de facto.
Mais. Quando dizemos: "Cor de burro quando foge", na realidade queremos dizer: "Corro de burro quando foge". Hum, neste caso eu diria que continua a não fazer muito sentido e até prefiro a primeira expressão. Já existem tão poucas cores que dá sempre jeito ter uma "cor de burro quando foge"... sobretudo para aquelas alturas em que não sabemos bem se é fucsia, violeta, rosa-choque ou lilás e mesmo quando estamos indecisos entre o caqui, o verde-seco e o verde troca. Quando é assim, dizemos simplesmente que é cor de burro quando foge e pronto.
Mais um exemplo. Em vez de se dizer: "Quem tem boca vai a Roma" devia dizer-se: "Quem tem boca vaia Roma". Como quem diz, "Uhhhhh, Berlusconi, uhhhhh". Desta gosto.

15 de outubro de 2009

Piano stairs

Subir escadas nunca foi tão divertido.



A ideia é, simplesmente, genial. E parece que o mentor desta ideia está a pensar implementá-la nas 'escadinhas' do Bom Jesus de Braga. Ou não :)

14 de outubro de 2009

Sunny road

Espero por ti na berma da estradinha empoeirada

Espero por ti na berma da estradinha empoeirada.
Tenho numa mão uma mala pequena de couro
E na outra uma tulipa branca.
Visto uns jeans e uma blusa muito leve,
Aquela em tom coral que tu me deste.
Lembras-te?
Adoro-a por ser um presente teu.
Também gosto dela porque é leve e fresca.
É tanto o calor que aqui faz, credo.
O sol é muito forte
E parece que passou uma eternidade desde que te espero.
Onde estás que já devias ter chegado?
Meu amor, estou à tua espera,
Na berma da estradinha empoeirada.
Lembras-te da oliveira junto à estradinha?
É aí. É aí mesmo que eu estou à tua espera.
Tento ignorar o calor
E sorrio confiante de que estás a chegar.
Ajeito o cabelo, cheiro a flor que me lembra de ti.
Lembras-te da tulipa que me deste no recreio da escola?
Foi nessa altura que me apaixonei por ti.
Éramos tão novos, tão tolos,
E era uma tulipa branca, como esta,
Lembro-me perfeitamente.
Se não te apressas, ela murcha.
É tanto o calor que aqui faz, credo.
A oliveira já mirrada não me protege deste sol.
Preciso de ti, meu amor.
Vem tirar-me do sol
E desta estrada empoeirada.
Lembras-te quando nos vimos pela última vez?
Foi aqui, nesta estradinha empoeirada.
Mas nesse dia eras tu quem esperava por mim
E era a ti que o sol torturava
Enquanto eu vinha ao longe, alheia ao teu sofrimento.
Via-te debaixo da oliveira, impaciente,
E sorria só por te ver olhar para mim.
Caminhava para ti, vagarosa, confiante.
Queria que me visses bem, que me admirasses.
E tu admiravas. Sorrias, ao ver-me chegar.
Esqueceras a espera.
Tu não gostavas de esperar,
Mas o meu estatuto era especial e tu sorrias
Enquanto eu caminhava para ti, confiante.
Tinha a certeza de que queria ir embora contigo,
Passar contigo o resto da minha vida.
E tinha a certeza, pela forma como me olhavas,
Que tu sentias o mesmo que eu.
Subitamente, o teu sorriso congelou.
Pareceste-me sobressaltado e eu estranhei.
Ficou tão frio o teu olhar naquele momento.
Ai, que arrepio frio.
O que se passa, meu amor?
Já não queres ir embora comigo?
Eu continuo à tua espera,
Na berma da estradinha empoeirada.
Lembras-te de um canteiro de tulipas brancas?
Um canteiro muito bonito, mesmo ao lado da oliveira.
Tem uma placa de madeira pintada
E uma inscrição com a tua letra.
Diz "Aqui jaz a mulher que eu amei
E com quem pretendia passar o resto da minha vida."
E é aqui que te espero, meu amor.
No canteiro de tulipas,
Na berma da estradinha empoeirada.

13 de outubro de 2009

Uma vida inventada

Como é que ainda ninguém tinha suspeitado, a julgar pelo nome do livro de Maitê Proença, que essa senhora não era muito genuína?! Ora agradece a Portugal o excelente acolhimento e aceitação do seu livro, ora faz isto que se vê aqui em baixo.



Sinceramente, Maitê, não se trata assim os portugueses! Pelo menos não enquanto precisamos que eles nos comprem livros. Né?

Pingo agri-doce



O novo anúncio do Pingo Doce está a dar que falar. Pelas piores razões. Porque a música é má, a letra parva, a voz de quem canta esganiçada, as imagens saloias e, no geral, irritante. Eu partilho todas essas opiniões. Aliás, neste texto revejo tudo aquilo que penso sobre o anúncio. Está tudo lá.

De qualquer maneira, a má publicidade também é publicidade. E a julgar pela forma como o anúncio está a ser atacado, quer-me parecer que os resultados, afinal, não vão ser assim tão maus. Eu diria que o feedback é bem capaz de ser agri-doce.

12 de outubro de 2009

Acho que estou em condições de afirmar...

... que regresso de umas férias bem merecidas cheia de energia e confiança no futuro.

É bem possível que este optimismo tenha sido em grande parte potenciado pela derrota de ontem de Pedro Santana Lopes e de Fátima Felgueiras...

... mas, por outro lado, se nem a vitória de Isaltino Morais e de Valentim Loureiro me abalou a confiança, é porque o optimismo é "bullet proof".

E aqui fica uma musiqueta dedicada à rentré Outono/Inverno 2009.




16 de agosto de 2009

O sexo e a idade

Um término de fim-de-semana em beleza, com gargalhadas em frente à televisão. Obrigada à jornalista Cristina Boavida pela hilariante 'Grande Reportagem' deste domingo - uma pérola em plena silly season. E obrigada à senhora de 61 anos pelas tiradas geniais ("A melhor idade de uma mulher?! Olhe, é aos 60. Dá tudo por tudo em cada uma... porque pensa que é a última!").

4 de agosto de 2009

4 de Agosto de 2007



Assim que Lina entrou de férias, os seus ombros ficaram mais leves vinte quilos. Alguns meses sem férias bastavam para que ela carregasse consigo o cansaço e as preocupações de uma vida inteira e, desta vez, já lá iam dois anos sem férias.
Nas últimas semanas de Julho, a assistente atafulhara-lhe a agenda de consultas quase sobrepostas e Lina não parava nem para almoçar. Era necessário antecipar todas as marcações de Agosto para Julho, pois, pela primeira vez, a clínica fecharia durante todo o mês de Agosto. A decisão inédita fora tomada em família, como todas as decisões que diziam respeito à clínica Paz, negócio de família. Tratava-se da herança do pai António aos três filhos: Idalina, António e Mariana. Lina fora a primeira a acabar a faculdade e a começar a exercer a profissão na clínica do pai. Dois anos depois dela, seguiu-se-lhe António e, um ano depois, Mariana. Contas feitas, há oito anos que Lina trabalhava na clínica, António há seis e Mariana há cinco. Ali, se fizeram dentistas profissionais e dos melhores especialistas nas diferentes áreas da medicina dentária: Lina em ortodontia, António em próteses e implantes e Mariana em branqueamentos e tratamentos estéticos. Num jantar de família em casa dos papás António e Zita, decidira-se então encerrar a clínica durante o mês de Agosto. Não era difícil chegar a um consenso no seio da família Paz, por isso mesmo o assunto foi resolvido ainda antes do prato principal. Talvez o sobrenome de família ajudasse ao estado de espírito dominante, mas o certo é que a gestão da Clínica Paz era bastante pacífica. Os três irmãos não tomavam uma decisão relevante sem primeiro consultar o patriarca. E não havia opinião por ele dada que não fosse ouvida e seguida com respeito. Afinal, a clínica era o que era pelo bom trabalho que, durante anos, o pai António fizera. Fora ele que deixara instituído o bom nome da clínica. E, graças a ele, a carteira de clientes antigos e fiéis à clínica era tão grande que bastava para pagar todas as despesas e sobejava.
Afonso, filho de Lina, era de todos os netos da família Paz, aquele que maior admiração nutria pelo avô António. Com pouco mais de um ano, depois de papá e mamã, pronunciara com clareza a palavra “vôvô”. Aos três anos, o seu brinquedo preferido era um estojo de dentista, com todos os instrumentos da profissão e bata branca incluída. E era frequente ouvir Afonso dizer que, quando crescesse, queria ser como o vovô António. Nenhum dos outros netos tinha tantas parecenças com o avô António, como Afonso.
Este verão, toda a família voltaria a reunir-se na quinta do Alentejo. A quinta do Alentejo tornara-se, ao longo dos anos, o pouso preferido dos patriarcas, mas os descendentes pareciam não partilhar da mesma preferência para destino de férias. Ora porque ficava sempre algum na clínica em Agosto, ora porque uns iam para fora e outros para novas andanças, ora porque simplesmente não se proporcionava. Este ano, porém, seria diferente. Estava marcado que todos passariam, juntos, uma semana na quinta. A primeira semana de Agosto.
Lina chegara logo no sábado, dia 1. Instalara-se no quarto de sempre e aproveitara para passear e absorver a calma que a quinta vazia lhe transmitia. Em cada canto e em cada objecto, Lina recordava um momento. E relembrava, sobretudo, o crescimento de Afonso. Aquela quinta estaria, para sempre, ligada ao crescimento do seu filho. Os primeiros passos no jardim, os primeiros toques numa bola de futebol, na piscina as primeiras braçadas bem dadas, as sestas no alpendre. Os cinco primeiros anos de Afonso foram vividos também ali, em fins-de-semana espaçados e nos dias de férias que Lina, o marido e o filho iam passando, de tempos a tempos, na quinta. Afonso adorava aquela quinta.
No dia 4 de Agosto, quando já toda a família Paz se encontrava reunida na quinta, Lina saiu de carro, pouco depois do nascer do sol. Só o pai António a vira, do alpendre de casa, acordado pelo barulho do motor. Nessa altura, já Lina ia bem longe na estrada empoeirada. A dez minutos dali ficava a praia mais próxima, e António sabia que era para lá que Lina se dirigia.
Na praia, Lina fixava o olhar na imensidão de mar à sua frente. Desta vez, ao contrário de tantas vezes nos últimos anos, não proferiu palavras de revolta. Não tinha um nó alojado na garganta e os pensamentos já não lhe turvavam a visão. Com uma clareza de espírito tão inédita quanto a clínica encerrar em Agosto, ela limitou-se a olhar o mar. Num silêncio entrecortado subitamente por uma voz masculina familiar.
- Parece que foi ontem.
O pai António acabara de chegar junto dela.
- Sim. Mas já lá vão dois anos.
Ao dizê-lo, Lina olhou o pai nos olhos. Ele reparou e cercou-a com um braço, emocionado.
- Faz hoje, eu sei. E também faz hoje dois anos que não me olhavas nos olhos, como acabaste de fazer.
Lina encostou a sua cabeça ao peito do pai e permaneceu amparada nele por segundos.
- Eu perdoo-te por me teres resgatado dali, papá.