11 de novembro de 2009

Carlota

Certo dia, a Carlota - farta de que a chamassem Carlota Bolota - mudou de nome.

Escolheu chamar-se Sofia, pois soubera pelo professor de filosofia que aquele nome significava sabedoria. E Sofia era um nome muito bonito, não ia ser, de certeza, alvo de chacota. A partir desse dia, Sofia passou a dizer o seu novo nome com toda a confiança, radiante por não dar azo a trocadilhos e rimas marotas.
- Sofia, muito prazer.
- O meu nome é Sofia.
- Olá, eu sou a Sofia.
- Sofia.
- Sofia.
- Sofia.
Até que, de tanto dizer o seu nome, Sofia cansou-se dele. Passou a achá-lo aborrecido e sem graça. E pior do que isso, deixou de se identificar com ele. Aquelas letrinhas, tão delicadas todas juntas, passaram a ser-lhe estranhas e Sofia deixou mesmo de responder por esse nome. A menina brincalhona, sorridente e faladora de antes tornava-se agora numa menina de identidade baralhada, a esmorecer a olhos vistos.
Os amigos, preocupados com ela, explicaram-lhe o motivo da sua angústia. Era simples: Sofia tinha saudades de se chamar Carlota. E foi nesse instante. Assim que ouviu o seu antigo nome, Sofia riu como há muito tempo não fazia. Lembrou-se da alcunha "Carlota Bolota" e achou-lhe muita piada. Ela percebera finalmente a inocência e a graça do trocadilho. Os amigos viam-na rir e sorriam também.
Foi às gargalhadas que Carlota Bolota percebeu finalmente a importância de se aceitar como era. Sim, podia ter um nome engraçado, mas aquele nome era a sua cara. E a cara não se muda. Porque mesmo que se usem máscaras, o rosto verdadeiro será sempre o que está por debaixo delas.

Escusado será dizer que a Carlota voltou a chamar-se Carlota. E não é que o professor de filosofia tinha mesmo razão ao dizer que Sofia significava sabedoria? Afinal, foi nos seus tempos de Sofia que Carlota aprendeu uma sábia lição de vida.

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