Já lá vão mais de seis meses, mas continuo assoberbada.
Não somente pelos cuidados que um bebé inspira, mas sobretudo pelo espaço que ele passa a ocupar na nossa vida. Sem deixar espaço para mais nada. O próprio tempo deixa de ter espaço. O tempo e o espaço mandam às urtigas todos os princípios científicos. E tudo se torna relativo. Uma relatividade absoluta que vem com a experiência da maternidade.
Tudo muda.
É cliché, mas a mais pura das verdades.
O mundo muda. Nós mudamos com ele.
Nada volta a ser igual.
A nossa existência passa a ter um propósito herculano: formar outro ser humano. Com tudo o que isso implica. Com a enorme responsabilidade que isso acarreta. É avassalador.
Já lá vão mais de seis meses, mas continuo assoberbada.
(um estado de espírito que, imagino, se vá prolongar pelos próximos anos)
12 de novembro de 2014
27 de março de 2014
A vizinha do 1º direito...
Parece carregar o mundo às costas.
Aproveita qualquer "bom dia" para uma conversa mais demorada.
Ausenta-se esporadicamente em idas à terra.
Abre sempre a porta enrolada no seu robe.
Passa a vida em análises clínicas.
Sofre de tantas maleitas que nem cabem nos dedos de uma mão.
Não gosta de dever o condomínio e por isso paga o ano logo em Janeiro.
É uma senhora razoavelmente simpática, embora invasiva.
A vizinha do 1º direito poderia morar em qualquer andar que não o 1ºD.
Aproveita qualquer "bom dia" para uma conversa mais demorada.
Ausenta-se esporadicamente em idas à terra.
Abre sempre a porta enrolada no seu robe.
Passa a vida em análises clínicas.
Sofre de tantas maleitas que nem cabem nos dedos de uma mão.
Não gosta de dever o condomínio e por isso paga o ano logo em Janeiro.
É uma senhora razoavelmente simpática, embora invasiva.
A vizinha do 1º direito poderia morar em qualquer andar que não o 1ºD.
4 de fevereiro de 2014
Sabes que estás grávida quando: #2
Vais no metro, como habitualmente, a jogar Mahjong no telemóvel. Numa das paragens, levantas os olhos do ecrã por casualidade. Percebes, aflita, que é a TUA paragem. Pior: tens um saco de compras do Pingo Doce, a mala que pesa toneladas (a mania de lá enfiar a vida toda!) e uma embalagem de 12 rolos de papel higiénico. Enquanto pensas "é aqui, tenho de sair!" e "já não vou ter tempo", todas as pessoas saíram e é uma questão de segundos até soar o alarme de fecho de portas. "Merda, já não vou mesmo a tempo!" Mas é tarde (quase 20h), estás desejosa de chegar a casa, tens fome e arriscas. Pegas em toda a tralha que tens o mais rápido que consegues, ainda com o telemóvel na mão e uma peça do puzzle Mahjong a piscar, à espera que a emparelhes... E dás um pulo da cadeira em direcção à porta, um pulo que parece demasiado ágil para a tua condição (mas talvez estejas em forma!). Enquanto isso, ouve-se o alarme de fecho de portas. Contra todas as expectativas, consegues passar a porta e pisar a plataforma da estação. Quer dizer, não chegas propriamente a pisar a plataforma porque, percebes agora, o pulo que deste foi realmente arriscado para a tua condição (afinal não estás em forma!). O que acontece é que mergulhas do metro para a plataforma, de cabeça, projectando as tralhas que tens na mão à tua frente e acabando no chão, rodeada por todas as pessoas que saíram atempadamente e que agora se viram para ti - prostrada no chão. As compras do Pingo Doce fora do saco, a embalagem de papel higiénico rasgada e os rolos espalhados pela plataforma e a vida toda que dantes estava enfiada na mala agora exposta para toda a gente ver. "E o papel higiénico, que vergonha!" Coitada da peça de Mahjong que não chegou a ser emparelhada - lamentamos, mas o jogo foi interrompido devido a problemas técnicos.
Felizmente, com o casaco de inverno apertado e o cachecol, ninguém percebe que estás grávida. E consegues escapar-te da situação com relativa rapidez. Não depois de te perguntarem vezes sem conta se estás bem, de te ajudarem a apanhar a tralha toda, de se oferecerem para carregar as compras ou de vir também o segurança do metro certificar-se que estás consciente e que te lembras do teu nome. Felizmente também, o teu inconsciente sabe que estás grávida e arranja forma de caíres qual duplo de cinema, de forma que a única parte do corpo que magoas, estranhamente, é o dedo indicador - e o maldito vai ficar a doer-te nas próximas 2 semanas!
Dignidade refeita, compras, mala e papel higiénico empilhados entre braços até casa... E um sorriso estúpido no rosto por achar que se conseguem fazer as mesmas acrobacias que se faziam antes de engravidar. Lição aprendida e uma atenção redobrada entre as peças de Mahjong e as paragens de metro.
Felizmente, com o casaco de inverno apertado e o cachecol, ninguém percebe que estás grávida. E consegues escapar-te da situação com relativa rapidez. Não depois de te perguntarem vezes sem conta se estás bem, de te ajudarem a apanhar a tralha toda, de se oferecerem para carregar as compras ou de vir também o segurança do metro certificar-se que estás consciente e que te lembras do teu nome. Felizmente também, o teu inconsciente sabe que estás grávida e arranja forma de caíres qual duplo de cinema, de forma que a única parte do corpo que magoas, estranhamente, é o dedo indicador - e o maldito vai ficar a doer-te nas próximas 2 semanas!
Dignidade refeita, compras, mala e papel higiénico empilhados entre braços até casa... E um sorriso estúpido no rosto por achar que se conseguem fazer as mesmas acrobacias que se faziam antes de engravidar. Lição aprendida e uma atenção redobrada entre as peças de Mahjong e as paragens de metro.
É subjectivo
Duas amigas encontram-se na rua. Ainda a 100 metros da outra, diz uma delas, com ar de que lhe caiu o Carmo e a Trindade:
- Estou com um "big" problema. Não consigo ouvir nada no meu telemóvel.
- A sério?!
(Reage a outra, com o mesmo ar de que o mundo só pode estar mesmo a acabar).
Fatalidades...
- Estou com um "big" problema. Não consigo ouvir nada no meu telemóvel.
- A sério?!
(Reage a outra, com o mesmo ar de que o mundo só pode estar mesmo a acabar).
Fatalidades...
23 de janeiro de 2014
No trânsito...
Olhar para o lado e ver, no banco de trás de um táxi, um senhor a ler bastante compenetrado o seu jornal... Na secção dos classificados eróticos! (É bom saber que as descrições das fotografias de rabos e maminhas são lidas com a mesma atenção que conteúdos noticiosos)
17 de janeiro de 2014
Sabes que estás grávida quando:
1 - Tentas identificar mulheres na mesma condição em todo o lado. É como se de repente tivesses aderido ao grupo "as grávidas", aquele colectivo em que mulheres anónimas se identificam mutuamente e chegam a trocar impressões ou simples sorrisos pelo facto de estarem na mesma condição.
2 - O teu discernimento está de tal forma afectado pela tua condição que a identificação que fazes das tuas semelhantes pode não ser a mais correcta - até porque não existe nenhum sinal visível e inequívoco que distinga uma mulher grávida de uma mulher com gordurinhas a mais na zona da barriga.
Foi precisamente o ponto 2 que deu azo a uma situação constrangedora, passada no elevador da empresa.
Entro eu e dois colegas de trabalho no elevador, onde já está uma colega de edifício (a quem só conhecemos de vista e dizemos "bom dia" ou "boa tarde"). Imediatamente depois de entrarmos, soa o alarme do elevador acusando excesso de peso. Uma vez que a indicação de peso máximo permitia 6 pessoas e nós éramos apenas 4, achei oportuno sair-me com a seguinte tirada:
- Pois, é o que dá ter duas grávidas no mesmo elevador! (enquanto olhava a dita colega, que permaneceu com a mesma expressão)
O elevador lá se calou e subimos, conversando sobre o alarme demasiado sensível. E quando alguém comentou que realmente era estranho ter apitado por sermos só quatro, eu voltei a olhar a colega com um sorriso de orelha a orelha:
- Quatro não... Somos seis!
Chegámos ao andar onde a dita colega saía. Ela deixou o elevador sem fazer qualquer comentário e sem me retribuir os sorrisos que eu lhe lançava. Até que um colega me indagou: "Tens a certeza que ela está grávida?". Conclusão: investiguei e, realmente, ela não está. Oops. Quer-me parecer que alguém vai evitar cruzar-se novamente comigo no elevador!
2 - O teu discernimento está de tal forma afectado pela tua condição que a identificação que fazes das tuas semelhantes pode não ser a mais correcta - até porque não existe nenhum sinal visível e inequívoco que distinga uma mulher grávida de uma mulher com gordurinhas a mais na zona da barriga.
Foi precisamente o ponto 2 que deu azo a uma situação constrangedora, passada no elevador da empresa.
Entro eu e dois colegas de trabalho no elevador, onde já está uma colega de edifício (a quem só conhecemos de vista e dizemos "bom dia" ou "boa tarde"). Imediatamente depois de entrarmos, soa o alarme do elevador acusando excesso de peso. Uma vez que a indicação de peso máximo permitia 6 pessoas e nós éramos apenas 4, achei oportuno sair-me com a seguinte tirada:
- Pois, é o que dá ter duas grávidas no mesmo elevador! (enquanto olhava a dita colega, que permaneceu com a mesma expressão)
O elevador lá se calou e subimos, conversando sobre o alarme demasiado sensível. E quando alguém comentou que realmente era estranho ter apitado por sermos só quatro, eu voltei a olhar a colega com um sorriso de orelha a orelha:
- Quatro não... Somos seis!
Chegámos ao andar onde a dita colega saía. Ela deixou o elevador sem fazer qualquer comentário e sem me retribuir os sorrisos que eu lhe lançava. Até que um colega me indagou: "Tens a certeza que ela está grávida?". Conclusão: investiguei e, realmente, ela não está. Oops. Quer-me parecer que alguém vai evitar cruzar-se novamente comigo no elevador!
10 de janeiro de 2014
É por esta e por outras... Que não gosto de cruzeiros!
Ainda a propósito de alterações climáticas, aqui está um vídeo gravado num cruzeiro durante uma tempestade em alto mar. As imagens não deixam de ser assustadoras, mas tornam-se hilariantes pela música a acompanhá-las. Valha-nos essa capacidade de rir com coisas sérias.
Imagens que impressionam
Há imagens que impressionam. Esta é uma delas. Como é possível que congelem as Cataratas do Niagara? O que se passa no Mundo para que, cada vez com mais frequência, surjam notícias deste género? Alterações climáticas que originam vagas de frio recordistas, ondas gigantes, cheias por toda a Europa, degelo nas zonas polares, furacões, tsunamis... O que estará para vir se continuarmos assim? Há realmente imagens que impressionam, mas as possíveis causas e consequências dessas imagens impressionam muito, mas muito mais.
3 de janeiro de 2014
Cinco anos em retrospectiva
Há períodos de tempo que mudam a nossa vida.
Que definem a pessoa em que nos tornamos.
Os traços gerais de quem somos.
E de quem queremos ser.
Nestes cinco anos, desde 2009, aconteceu isso mesmo.
Cresci como pessoa. Tornei-me mulher.
Ganhei consciência do verdadeiro significado de 'crescer'.
Amadureci pessoal e profissionalmente.
Reafirmei-me na escrita, em vários tipos de escrita.
Comecei um projecto maior que dura até hoje.
Somei pequenas experiências que de pequenas não tiveram nada.
Superei-me e completei-me a cada uma dessas experiências.
Reafirmei o meu compromisso com a pessoa que escolhi para amadurecer comigo.
Nunca duvidei dessa escolha.
Construí os pilares que sempre desejei ter.
Passei da instabilidade à estabilidade.
Criei as minhas próprias oportunidades.
Colhi os frutos que plantei.
Recuperei a fé na justiça e na retribuição do universo.
Fi-lo com os dois pés assentes na terra.
Consegui esquecer mágoas e curar feridas.
Soube valorizar o importante e minimizar o irrelevante.
Rodeei-me de pessoas que me fizeram bem.
Reconciliei-me com as minhas raízes.
Aprendi a estar em paz comigo mesma.
Descobri a importância dessa paz interior.
Tive coragem para dar passos marcantes.
Engravidei.
E voltei a querer escrever aqui.
Ainda que não saiba exactamente porquê...
Também já aprendi a não contrariar os meus instintos.
2 de janeiro de 2014
Em 2014...
Voltei.
Como um bom filho a casa torna.
Quase cinco anos depois.
Não digo que não volte a partir.
Não faço promessas que não possa cumprir.
Quero apenas matar saudades.
E encher este espaço de palavras/flores/vida.
Outra vez.
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