14 de outubro de 2009

Espero por ti na berma da estradinha empoeirada

Espero por ti na berma da estradinha empoeirada.
Tenho numa mão uma mala pequena de couro
E na outra uma tulipa branca.
Visto uns jeans e uma blusa muito leve,
Aquela em tom coral que tu me deste.
Lembras-te?
Adoro-a por ser um presente teu.
Também gosto dela porque é leve e fresca.
É tanto o calor que aqui faz, credo.
O sol é muito forte
E parece que passou uma eternidade desde que te espero.
Onde estás que já devias ter chegado?
Meu amor, estou à tua espera,
Na berma da estradinha empoeirada.
Lembras-te da oliveira junto à estradinha?
É aí. É aí mesmo que eu estou à tua espera.
Tento ignorar o calor
E sorrio confiante de que estás a chegar.
Ajeito o cabelo, cheiro a flor que me lembra de ti.
Lembras-te da tulipa que me deste no recreio da escola?
Foi nessa altura que me apaixonei por ti.
Éramos tão novos, tão tolos,
E era uma tulipa branca, como esta,
Lembro-me perfeitamente.
Se não te apressas, ela murcha.
É tanto o calor que aqui faz, credo.
A oliveira já mirrada não me protege deste sol.
Preciso de ti, meu amor.
Vem tirar-me do sol
E desta estrada empoeirada.
Lembras-te quando nos vimos pela última vez?
Foi aqui, nesta estradinha empoeirada.
Mas nesse dia eras tu quem esperava por mim
E era a ti que o sol torturava
Enquanto eu vinha ao longe, alheia ao teu sofrimento.
Via-te debaixo da oliveira, impaciente,
E sorria só por te ver olhar para mim.
Caminhava para ti, vagarosa, confiante.
Queria que me visses bem, que me admirasses.
E tu admiravas. Sorrias, ao ver-me chegar.
Esqueceras a espera.
Tu não gostavas de esperar,
Mas o meu estatuto era especial e tu sorrias
Enquanto eu caminhava para ti, confiante.
Tinha a certeza de que queria ir embora contigo,
Passar contigo o resto da minha vida.
E tinha a certeza, pela forma como me olhavas,
Que tu sentias o mesmo que eu.
Subitamente, o teu sorriso congelou.
Pareceste-me sobressaltado e eu estranhei.
Ficou tão frio o teu olhar naquele momento.
Ai, que arrepio frio.
O que se passa, meu amor?
Já não queres ir embora comigo?
Eu continuo à tua espera,
Na berma da estradinha empoeirada.
Lembras-te de um canteiro de tulipas brancas?
Um canteiro muito bonito, mesmo ao lado da oliveira.
Tem uma placa de madeira pintada
E uma inscrição com a tua letra.
Diz "Aqui jaz a mulher que eu amei
E com quem pretendia passar o resto da minha vida."
E é aqui que te espero, meu amor.
No canteiro de tulipas,
Na berma da estradinha empoeirada.

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