22 de junho de 2015

Eu não nasci para ser mãe a tempo inteiro

 
 Imagem: pinterest.com

É o que me apraz dizer, depois de um fim-de-semana passado a dois (mãe e bebé, entenda-se!). Aturar as birras sozinha. Fazer a sopa, cozer a fruta, improvisar um prato de proteína, preparar o banho... Isto enquanto o tenho agarrado à perna, qual lapa! Brincar e levar com patadas e cabeçadas, que nesta idade o carinho manifesta-se "à bruta". Apanhar as tralhas que ele semeia pelo chão, over and over again... Minimizar as quedas e os queixumes. Espalhar Arnidol nas pancadas antes que elas se transformem em nódoas negras. Ter vontade de espalhar Arnidol em nós próprias, de cima a baixo, antes que nos passemos de vez para "o lado negro". Respirar fundo. Relembrar que adoramos ser mães, só não gostamos de o ser a tempo inteiro. Uma espécie de amor com restrição de horários.

A dureza de ser mãe a full time manifesta-se especialmente nos dias ou semanas em que fico com ele doente em casa. Mais ou menos semana-sim-semana-não. Nessas alturas, sinto-me capaz de ligar aos senhores do Júlio de Matos e implorar para que me venham buscar, em colete de forças, qual cena de filme dramático! OK, pode parecer exagero. Mas deixem-me dizer, em minha defesa, que não existem avós ou familiares nas proximidades para dividir a "carga". O que significa que somos mesmo só nós. Os três. Ou os dois (mãe e bebé) nas enfermidades, nas formações do pai ao fim-de-semana (so good!) e nas viagens dele em trabalho.

Eu sei que é uma coisa muito feia de se dizer. Isto de não ter nascido para ser mãe a tempo inteiro. Faz-nos parecer más mães. Afinal, que mãe não daria tudo para poder passar os dias colada à sua cria, qual mãe-canguru? A lambê-la sofregamente nos primeiros 16 anos, antes que a adolescência se intrometa? Em teoria, todas as mães. Eu incluída. Mas a realidade é dura, muito dura, e nem todas têm perfil para modelo de anúncio publicitário dos anos 50! (Reparem nos sorrisos genuínos e na aura de tranquilidade das senhoras, face aos afazeres da vida doméstica).

  Imagem: pinterest.com

Para mim, ser "boa mãe" é passar momentos de qualidade com os nossos filhos. Momentos em que estamos ali para eles. Momentos em que somos "apenas" mães. E eu simplesmente não consigo sê-lo 24h/7 dias por semana. Preciso também dos outros momentos, aqueles eu que sou pessoa e mulher (de preferência, sem restos de Bolacha Maria colados à roupa). Momentos "time out", em que nos podemos dedicar a outras coisas, por mais chatas que elas sejam, como resolver problemas no trabalho ou correr 45 minutos. Mas são essas "outras coisas", que colocam em "stand-by" o papel de mãe, que nos fazem apreciá-lo INFINITAMENTE MAIS quando voltamos a pressionar o "play". Ou o "fast forward", nos finais de dia atarefados.

Toda esta questão da maternidade a tempo inteiro é ainda mais premente no caso das mães desempregadas. Parece lógico, quase obrigatório até, que essas mães passem a ficar em casa com os filhos. Primeiro, porque se poupa na creche numa altura em que o orçamento familiar está mais reduzido e agradece alguns cortes. Depois, porque se parte do princípio que a mãe quer, efectivamente, passar os dias inteirinhos (24h/7) com os filhos. Atenção que há mães que querem realmente, assim como há casais que não podem suportar a mensalidade da creche. Mas, em podendo, porque não? Faz bem à criança estar com os seus pares e participar nas actividades da creche. Faz bem à mãe ter algum tempo livre, para pôr a leitura em dia, o exercício, as consultas no dentista, o café com as amigas... Assim como as 1500 tarefas domésticas que têm de ser feitas e que se fazem muito melhor sem os filhos por perto para atrapalhar: compras de supermercado, máquinas de roupa, pilhas de loiça, limpezas, etc., etc., etc.

A mulher é um ser fantástico, que consegue fazer 1000 coisas ao mesmo tempo (é verdade, consegue mesmo). Claro que é sempre melhor quando o pai ajuda e faz a sua quota-parte, porque a casa e o filho são dos dois... Mas a mulher consegue efectivamente sozinha, se não tiver alternativa. Yes, I can! (como dizia o Obama). No meu caso, "I can" com muito mais tranquilidade se estiver no auge das minhas capacidades, com paciência e tolerância para aguentar cabeçadas, patadas e outras demonstrações de carinho que me derretem num dia bom e me fazem desabar num dia mau!

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