5 de março de 2009

O vendedor do quiosque (julga que) dá borlas em tempo de crise!

A trabalheira que eu tive hoje de manhã para convencer o senhor do quiosque a vender-me uma revista. A Visão. E sem o livro que dizia trazer na capa, por mais 0,50€ (um livro de poesia e prosa de Maria Teresa Horta). Bem jeitoso e baratinho, por acaso. Mas eu não o queria.
- Só quero a revista, por favor.
Três moeditas de euro em cima do balcão de madeira chegavam e ainda davam direito a troco. Mas o ar indignado do senhor, que ora apontava para o canto superior direito da revista - onde estava a imagem do livro e a frase "por apenas + 0,50€" - ora apontava para as três moedas de 1€.
- Isto não chega.
- Chega, sim. Porque eu só quero a revista, não quero o livro.
E o senhor, não convencido do que eu lhe dizia, continuou, insistente.
- Vem com livro, é mais caro.
Pacientemente, lá lhe expliquei novamente que não queria o livro. Só a revista. Até lhe disse que às vezes o livro vem no interior da revista, mas ali nem era o caso. A revista mantinha a espessura normal, ou seja, não havia dentro dela nenhum livro.
- Talvez você o tenha guardado aí dentro, nalguma dessas prateleiras. Entre os outros brindes, sei lá.
- Não, aqui não tenho nada - retorquia o homem, cada vez mais mal-disposto.
E eu ali, ao vento e ao frio, de mala aberta, à espera da revista e do meu troco. Já me passava pela cabeça desistir ("fique com a merda da revista e com a porcaria do livro invisível!"). Mas vá, em mais um rasgo de paciência, abri a revista e folheei-a rapidamente.
- Vê, aqui não tem nada. Nenhum livro.
E qual não é o meu espanto quando o homem lança a mão à revista e tira dela um panfleto publicitário. Aquele panfleto de duas páginas com a campanha das assinaturas - "se assinar por um ano recebe mais seis meses grátis", algo desse género. E o sacana diz-me:
- Deve ser isto. Mas pronto, vai de borla!
E eu, completamente embasbacada, calei-me. Primeiro, porque não me apetecia ficar ali, ao vento e ao frio, a explicar-lhe que um panfleto publicitário de duas folhas não é um livro - há livros pequenos, mas nunca vi nenhum ter duas folhas. Segundo, porque o homem estava tão convicto de me estar a dar uma borla em tempo de crise que já nem falava, roncava! Claro que ainda tive de o convencer a dar-me o troco dos 3€ pousados no balcão . Parece que ele queria "deixar assim" - 2,85€ pela revista e 0,15€ pelo panfleto com pretensões de livro. Tenho para mim que, em tempos de crise, vale tudo.

Gente dos panfletos publicitários porta-a-porta, ponham os olhos nisto! Não deixem os panfletos atulhados nas caixas de correio. Vendam-nos!

3 comentários:

  1. Vá, se o senhor tivesse um QI de Einstein seria desempregado/trabalharia por meia dúzia de tostões e a recibos verdes. Ele está num quiosque, pelo amor da santa. Num quiosque. Não peças o impossível.

    Nice to read you around.

    Bjs,

    J

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  2. Ainda acho que a Maria Teresa Horta tem a ver com isto de mudar de vida.

    Olha, vamos mas é ao lanche (a prendada M. podia aparecer com um bolo daqueles ... entretanto vou trincando esta tablete de fusão maravilhosa, chocolate e naftalina, onde é que a arranjaste?)

    :)))
    beijinhos

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  3. Que paciência a tua! Eu já me tinha ido embora (e olha que sou bastante paciente!) Pois é, Susana, os nossos percursos são muito parecidos. Andámos quase sempre nos mesmos projectos, inicialmente sem sabermos. Espero que os nossos caminhos se continuem a cruzar (em breve). É um desejo :)
    Beijinhos grandes e espero que estejas bem.
    Parabéns pelo blog!

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