11 de setembro de 2015

O dia 11 de Setembro

Não sendo feriado, dia santo ou dia mundial de alguma coisa, o 11 de Setembro tornou-se um dia a que ninguém fica indiferente. É inevitável recordarmos o que aconteceu no dia de hoje, em 2001. Assim como nos parece a todos - pelo menos os que nasceram antes da década de 90 - que "foi ontem", mas já se passaram 14 anos. Haverá alguém que não se lembre do que fazia no momento em que soube, pela televisão ou por boca-a-boca, o que acontecera nos Estados Unidos? 

Para mim, era mais um dia de trabalho na fábrica de móveis onde estivera a trabalhar durante todo o verão. Por essa altura, eu já sabia que tinha entrado na universidade, em Lisboa, e aguardava com ansiedade essa nova etapa da minha vida. Mas continuava a trabalhar enquanto fosse possível, provavelmente até meados de Setembro, para juntar mais uns trocos. Ao início da tarde, depois da hora de almoço, começaram a surgir uns rumores pela fábrica. Falava-se da Terceira Guerra Mundial. Que o Japão (quase de certeza o Japão) teria atacado os Estados Unidos - o que, a confirmar-se, ditaria o início de uma nova Guerra Mundial. Subitamente, todas as minhas expectativas em relação ao futuro, o estado de espírito eufórico em que me encontrava, tudo isso deixou de fazer sentido. Lembro-me que senti medo. Muito medo. A matéria das aulas de História estava muito fresca na minha cabeça. E eu sabia perfeitamente quais as implicações de uma guerra mundial. Mesmo que Portugal não entrasse nem se tornasse aliado. O futuro, como eu o imaginava, estava em risco. Se é que existiria um futuro...

Naquele momento tão particular da minha vida, a notícia caiu-me como uma bomba. A mim. O meu mundo desabou. Puro egoísmo (eu sei). Verdade seja dita. No instante em que soube, não pensei nas vítimas. Pensei em mim e na minha família, naqueles que eu acreditava estarem ameaçados por uma Terceira Guerra Mundial. Não pensei nas vidas que já se tinham perdido. Ou na família dos que já eram, efectivamente, vítimas. Só mais tarde, quando assisti às imagens pela televisão, percebi. Nessa altura, já se sabia tratar-se de um atentado terrorista. Já se tinha ilibado o Japão. E já não se falava em Guerra Mundial, mas sim em Terrorismo. (Haverá diferença?)

Lembro-me perfeitamente de estar em pé, debruçada sobre a mesa da cozinha (onde havia a única televisão lá de casa), a assistir à repetição do horror. Ouviam-se diferentes vozes, em choque, a comentarem as mesmas imagens (o primeiro avião a embater na primeira torre, o segundo avião a embater na segunda torre, as pessoas a saltar das janelas, a confusão de bombeiros e polícias e pessoas ao redor, intoxicados pelo fumo...). Enquanto isso, eu permanecia imóvel em frente à televisão. Eu, que acabara de entrar num curso de jornalismo, não conseguia imaginar-me no lugar dos jornalistas que cobriam o acontecimento. (E acho que nenhum deles algum dia se imaginou naquele lugar!)

Hoje, vejo-me novamente na cozinha dos meus pais, imóvel (paralisada!) em frente à televisão. Não sei porquê, mas é essa imagem que guardo e revivo a cada 11 de Setembro. Talvez porque me lembre tão bem do que senti naquela altura. O mesmo que sinto hoje, e em todos os 11 de Setembro: um profundo medo pela facilidade com que o mundo pode desabar, num instante. A iminência do perigo. A apreensão pelo estrago que a maldade humana pode causar.

Para mim, 11 de Setembro é mais do que um dia. É um lembrete. Um estado de espírito. E eu espero sinceramente que o meu filho nunca saiba o que isto é, a não ser - claro - nas aulas de História.

Sem comentários:

Enviar um comentário