14 de setembro de 2015

Doutor, preciso de ajuda! #1

Decidi começar uma rubrica ao estilo "consultório" porque há várias questões do foro psicológico que me atormentam. (Cuckoo). Todos temos os nossos "macaquinhos no sótão", portanto das duas uma: ou deixamo-los lá sossegadinhos (a fazer macacadas), ou brincamos com eles. E eu sou pessoa que gosta de lhes dar bananas. Gosto de observar os meus próprios macacos, tentando perceber de onde vêm e como posso conviver com eles, tornando-me numa pessoa melhor resolvida com as minhas "interioridades". Neste espaço, serei paciente e psicóloga de mim mesma. Talvez a psicologia de divã me ajude a analisar objectivamente as "cenas maradas" da minha psique. Ou então não. Seja como for, é como dizem: falar (ou escrever) ajuda. Portanto, vamos a isso. Bloco de notas aberto, divã em posição, caneta a postos... Que comece a terapia!

Sem pretensões freudianas, acho que sou bastante boa a "radiografar" desconhecidos. Consigo, num primeiro olhar, identificar os traços gerais da sua personalidade. E raramente me engano. Ossos do ofício, possivelmente. No exercício da escrita - e do guionismo - tenho de criar personagens, inventando vivências e fragilidades psicológicas. Não basta juntar factos à partida relacionados - "foi maltratado enquanto criança, logo, tornou-se um pai abusivo". Claro que há um conjunto de circunstâncias da vida que influenciam o homem ou a mulher que nos tornamos. Claro! Mas o desafio, quando se criam personagens, está em ir para além do óbvio e do estereótipo. Criar uma personagem de tal forma complexa que pareça ter existência real. Porque as pessoas são complexas. A nossa personalidade não é o espelho das nossas vivências, da nossa infância ou da forma como nos educaram. Somos sempre muito mais que isso. Existe, obviamente, uma boa parte de nós que é influenciada pelas circunstâncias - como e onde crescemos, a nossa estrutura familiar, as amizades que escolhemos, etc. - mas há também um recanto da nossa personalidade (o nosso sótão) que tem vida própria. Daí que sejamos todos diferentes. Daí que os irmãos, criados da mesma forma e com vivências semelhantes, sejam - por vezes - radicalmente diferentes. Pessoas boas e pessoas más nem sempre significam vida privilegiada ou vida difícil. E eu gosto da inversão das probabilidades. Pessoas que constroem o seu próprio sucesso, mesmo tendo nascido numa família miserável. Pessoas bem resolvidas, apesar da ausência de uma estrutura familiar saudável. Ou seja, há sempre um momento nas nossas vidas em que podemos decidir quem queremos ser e para onde queremos ir, por mais ténue ou breve que esse momento seja (às vezes nem damos por ele). Mas ele existe. E é essa possibilidade de escolha (ou livre arbítrio) que nos torna "nós". Personagens na vida que vivemos.

OK, estou a dispersar-me. (Maldito divã!) Tudo isto para vos falar de um hábito meu pelo qual ainda acabo internada no Júlio de Matos! E que hábito é esse, minha gente? Tan tan tan tan... Preparados? Observar pessoas. Estranhos. Mas observar mesmo, de forma obsessiva, com os dois olhinhos pregados neles e os ouvidos bem abertos. Passo a explicar.

Eu adoro - adoro! - sentar-me num banco de jardim, numa esplanada, num café (onde for) a observar as pessoas em redor, prestando atenção às suas conversas no telefone, à discussão que têm com o namorado, à forma como tratam o pai ou a mãe, à maneira como se vestem e comportam... Todos os pormenores contam! E, com base no que vejo ou ouço, traço o perfil desses estranhos (fragilidades psicológicas incluídas), exactamente como faço ao criar as personagens das minhas histórias. Eu sei, é um hábito muito feio! Podia tentar desculpá-lo com o facto de ser "pesquisa" para a minha profissão, mas nem sequer é somente isso. Eu adoro fazê-lo. A questão é: será que isso me torna na "maluquinha que gosta de observar estranhos"?

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