25 de maio de 2015

Inconformados anónimos

Olá. O meu nome é Susana e estou decidida a mudar de vida. Mas isso vocês já sabem. Vamos ao que ainda não sabem: quem sou eu e de onde venho? Nasci no distrito de Viseu, mas vivo há mais de 10 anos em Lisboa. Foi para esta cidade que vim estudar, antes mesmo de ter idade para tirar a carta de condução. Jornalismo foi o curso que escolhi, embora nunca tenha chegado a exercer. Em vez disso, tive a felicidade de abraçar outros desafios relacionados com a escrita, aquilo que sempre me moveu e apaixonou. Trabalhei em algumas produtoras de televisão, numa empresa de livros personalizados, tive outros trabalhos pelo meio, quase sempre a recibos verdes... Até que, há bem pouco tempo, fui mais uma "vítima" da crise e fiquei desempregada.

Dizem que estas situações são um empurrão para quem quer mudar de vida. E eu há muito que queria. Não por não gostar do que fazia, nada disso. Mas porque sempre preferi escrever sem pressões e deadlines, ao invés de o fazer "das 9h às 18h" (ou, mais próximo da realidade, "das 8h às 20h"). Além disso, a instabilidade associada à profissão de argumentista, com a inevitabilidade dos recibos verdes, nunca me permitiu fazer planos a longo prazo. Comprar uma casa, ter um filho, construir uma vida mais estável com o namorado de anos... Todas estas coisas, que não eram prioridades, passaram a sê-lo com a aproximação dos 30. E assim começou a minha vontade de mudar de vida. No início de 2013, tomei a primeira decisão nesse sentido: abdiquei de boa parte do ordenado e aceitei um contrato sem termo, em substituição dos recibos verdes. Graças a essa decisão, pude fazer "check" em alguns pontos da minha lista: comprei casa com o namorado, engravidei do primeiro filho e pude usufruir da licença de maternidade (um direito que os falsos recibos verdes já têm, mas que no meu tempo era utopia). Basicamente, foram 2 anos de conquistas, tanto a nível pessoal como profissional. No entanto, o que é bom acaba depressa e as más notícias chegaram pouco depois do final da minha licença de maternidade: a produtora teria de encerrar um dos escritórios, aquele onde eu trabalhava, e despedir todos os colaboradores. Assim foi. No fundo, e por incrível que pareça (para quem já tinha uma prestação da casa para pagar e um filho de meses para sustentar), o sentimento foi de alívio. Estava na hora de mudar.

Desde essa altura, passaram-se alguns meses. Na minha cabeça, a mudança já é uma realidade. Na prática, however, não faço qualquer ideia do que vou fazer. Tenho apenas uma certeza: serei mais feliz a escrever como hobby, sem pressões, deadlines, imposições... E sem um ordenado no final do mês, subentenda-se. O que me leva a concluir algo tão simples como: se a escrita passar a hobby, isso significa que terei de encontrar outra profissão/actividade remunerada. A grande questão é: QUAL? O jornalismo que nunca exerci? 

Sem excluir a hipótese de trabalhar finalmente como jornalista, tenho à partida uma enorme reticência: o estágio de 12 meses obrigatório para conseguirmos a carteira profissional. Segunda reticência: para quê sair de uma área em crise para me meter noutra igualmente má ou pior? Além disso, desapaixonei-me pelo jornalismo durante o curso e seria preciso uma excelente primeira experiência para voltar a apaixonar-me. Quem conhece os meandros do jornalismo, sabe que as coisas não estão fáceis. Mesmo que eu aceitasse um estágio de 12 meses, teria de haver um jornal ou  revista (sim, porque não me imagino na rádio ou na televisão) a dar-me uma oportunidade. A julgar pela falta de respostas ao envio do meu currículo, e também pelo tipo de anúncios que vão aparecendo, parece-me que o mercado está melhor para os recém-licenciados. Provavelmente por serem cordeirinhos mais obedientes numa altura em que o pastor não está para se chatear com ovelhas que tenham algum sentido crítico (fundamentado pela experiência profissional e de vida). Who knows?

Jornalismo ou não, a minha próxima profissão/actividade remunerada terá de incluir o factor criatividade - o acto de criar, a possibilidade de dar forma a ideias, a capacidade de inovar... Essa - seja ela qual for - é a profissão para mim! E, com isto, delimitámos bastante o universo laboral. Neste momento já só tenho pr'aí umas 5324 profissões por onde escolher. Acho que talvez dê jeito um daqueles testes de aptidão profissional que se fazem no secundário. 

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