21 de fevereiro de 2019

Serei eu boa pessoa? (É que as redes sociais baralham-nos...)

Eu sempre me achei boa pessoa. 

Sou incapaz de magoar alguém propositadamente. Não quero o mal alheio. Gosto de ajudar os meus amigos e a minha família. E gosto de ajudar até aqueles que não são  meus amigos ou família, sempre que - e desde que - eu saiba de situações concretas em que a minha ajuda faça a diferença. Não é solidariedade nem caridade, é mesmo só uma ajuda. 

Eu sempre me achei boa pessoa. 

Não me importo nada de condicionar a minha vida em função dos outros. Não sou daquelas que acha que os outros é que têm de se adaptar a nós, nada disso, na maioria das vezes sou eu que me adapto. Faço o que for preciso para que as pessoas à minha volta estejam bem. Pessoas que me são próximas, de alguma forma. 

Eu sempre me achei boa pessoa.

Admito, não sou uma pessoa benemérita, nem estou frequentemente envolvida em causas sociais... Mas isso não faz de mim uma pessoa egoísta ou má. Também não dou esmola a toda a gente que me pede... Mas isso não significa que não seja sensível à situação de todas as pessoas que se veem obrigadas a pedir na rua. 

A minha ajuda não se concretiza pela via da esmola. Nós vivemos num Estado Social e é esse Estado que tem o dever de garantir que todos os cidadãos vivem condignamente, com os direitos básicos assegurados. Não sou eu que vou mudar isso e nem é esse o meu papel. E até podem argumentar que, se todos contribuirmos, as coisas mudam. Mas será que mudam? Pois eu acho que só vão surgir mais e mais pessoas a pedir nas ruas. Porque a esmola não resolve! O que resolve é um sistema social sólido e bem construído, que ajude nos casos identificados e previna que surjam outros.

O meu papel como cidadã (o meu dever, esse sim!) é contribuir ativamente para esta sociedade, ajudá-la com o meu trabalho e com o meu sentido cívico. Nunca me irão ver a pôr lixo no chão, a estacionar em lugares de deficientes ou a vandalizar infra-estruturas que são de todos, como parques infantis ou casas de banho públicas... Pode parecer pouco, mas se todos fizermos "a nossa parte" estaremos a contribuir para um mundo melhor. É nisso que acredito!

O problema é que "a nossa parte" não é cumprida por todos. Curiosamente, aqueles que não a cumprem são os primeiros a apontar o dedo e a criticar-nos se não damos uma esmola ou se não partilhamos um daqueles pedidos de ajuda que circulam abundantemente no Facebook.

Eu sempre me achei boa pessoa.

Porém, na era das redes sociais, há sempre alguém a fazer-nos crer que somos maus. Somos presos por ter cão e presos por não ter. Se não nos manifestarmos contra aquilo que a maioria considera vergonhoso, escandaloso, indecente, ultrajante, etc., então somos nulidades sociais. Se não fizermos likes em tomadas de posição, se não insultarmos em comentários, se não denunciarmos as ditas injustiças, se não apontarmos o dedo ao alvo do momento (há sempre um alvo!)... Então mais vale eliminarmos as nossas contas de Facebook e de Instagram, porque não estamos a contribuir ativamente para a sociedade! Really?!

Na luta moral que se trava a toda a hora nas redes sociais, mais vale atirarmos logo a toalha ao chão porque é certo que vamos perder. Somos sempre maus nas redes sociais!

Felizmente, eu prefiro ser má na estratosfera digital e boa no que verdadeiramente importa e faz a diferença: a vida real.

Caríssimos, "be kind to one another!"

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