20 de fevereiro de 2019

Ser mãe é, também, não nos orgulharmos da mãe que somos

Ser mãe é, também, não nos orgulharmos da mãe que somos. Também. E reparem que não escrevo "ser BOA mãe" porque isso não existe. O que é ser "boa" ou "má" mãe? Por que critérios se mede a atribuição do adjectivo? Há alguns, na verdade, que não deixam margem para dúvidas de que se é "má mãe". Mas esses estão enumerados no Código Penal porque são crimes. Da mesma forma que esses anulam automaticamente a palavra mãe, substituindo-a por progenitora. Mas não vamos por aí... Vamos concentrar-nos nas mulheres que são realmente mães, como eu, e na crise existencial constante que nos faz achar, volta e meia, que somos más mães.

A culpa, o arrependimento, a indecisão, o não saber se está certo ou errado, o medo do que os outros possam dizer, o que a sociedade nos impinge como "norma".... Hoje em dia, ser mãe é mais do que amar incondicionalmente os filhos e dar o nosso melhor para os educar como seres-humanos decentes. Hoje em dia, ser mãe é também prestar contas à nossa consciência e ao mundo. 

ENORME SUSPIRO. Cansa. Cansa muito. Como se o papel de mãe já não fosse suficientemente exigente, com banhos, refeições, regras, logística, viroses, birras, noites mal dormidas, gestão carreira-maternidade, e um sem fim de afazeres e dores de cabeça.

O meu exemplo: 
  • Costumo dizer que era incapaz de ser mãe a tempo inteiro (sem o "escape" do trabalho e sem me sentir mulher e profissional, para além de mãe!). 
  • Assumo que não gosto de brincar com os meus filhos (não tenho vocação e a minha criatividade esgoto-a no trabalho, lamento!). 
  • Tenho zero paciência para birras, só me apetece distribuir berros e chapadas (e às vezes acontece, portanto estejam à vontade para chamar a Proteção de Menores!). 
  • Sempre que fico uns dias, às vezes uma loooooonga semana, com os miúdos doentes em casa, sinto-me capaz de devorar arame farpado (imaginem-me despenteada, com umas trombas de meio metro, sem tomar banho e pobremente alimentada - qualquer semelhança com o Tom Hanks, no Náufrago, é pura coincidência. Até porque ele tem a sorte de estar sozinho numa ilha... Sem filhos ranhosos e febris!). 

Agora digam-me, com base no que acabaram de ler, se não é legítimo que eu dê por mim a pensar "sou péssima mãe"?!

No meu caso, são muitas mais as vezes em que eu penso "sou péssima mãe" do que as vezes em que me orgulho da mãe que sou. Talvez seja a tendência natural do ser-humano (e a minha em particular) para ver o pior em detrimento do melhor. Ou talvez seja a mania que nós temos  de ajustar a nossa bitola em função da bitola dos outros: "ah, e tal, a mãe X tem três filhos super bem-comportados, nunca os vi a fazer uma birra, sentam-se num restaurante sossegados e calados, um mimo!" Ou "ah, que inveja! A mãe Y anda sempre impecavelmente vestida e maquilhada, com os filhos metidos em fatiotas a condizer, como se estivessem numa sessão fotográfica ambulante de capa de revista tipo "Caras", com o título "família perfeita"". 

Atenção, não há qualquer pretensão neste texto que não seja constatar um facto: mãe que é mãe nem sempre se orgulha da mãe que é. Essa crise existencial pode surgir num momento isolado, pode ser um pensamento fugaz que nos assalta de tempos a tempos ou  - no meu caso - pode azucrinar-nos  a cabeça várias vezes por dia, 7 dias por semana. 

Moral da história (que serve, na verdade, como "note to self"):  'bora lá tentar sermos as melhores mães que conseguirmos, independentemente de crises existenciais, bitolas alheias ou julgamentos de terceiros. 'Bora lá desejar apenas que os nossos filhos sejam e cresçam felizes, assim como nós próprias e a nossa família. 'Bora lá privilegiar a educação dos miúdos e as competências que realmente interessam, como a bondade, o respeito pelos outros, a responsabilidade, a boa educação, a tolerância, a paciência, a percepção de que nada se consegue sem esforço e sem trabalho, a noção de ética inerente a tudo, a amizade, a compreensão... 'Bora lá seguir o nosso instinto (a nossa própria bitola) e aprender a viver e a conviver pacificamente com as chatas das crises existenciais. 

Mães deste mundo, não há mal nenhum em reconhecermos que não somos perfeitas. Mães deste mundo, não há mal nenhum em duvidarmos de nós próprias. Mães deste mundo, não há mal nenhum em questionarmos as nossas competências maternais. Mães deste mundo, não há mal nenhum deste que seja por um bem maior!!!

Agora repitam isto comigo as vezes que forem precisas, até acreditarmos.

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